sábado, 5 de setembro de 2009

O "apartheid" da igreja católica aos sambistas negros de Bom Jesus de Pirapora

Era no mês de agosto que o sagrado e o "profano" se encontravam em uma cidade chamada Bom Jesus de Pirapora. Negros de todos os cantos do estado invadiam os barracões entoando, o que hoje poderia ser compreendido como uma das mais originais manifestações de inter relação da cultura sambística paulistana. Batuques, cururus, jongos, cateretês e caxambus movimentavam as festas onde a "negraiada" celebrava, em um verdadeiro ambiente de resistência cultural. Não era só na capital que o preconceito incedia sobre o sambista, pois nas festas religiosas realizadas pela elite católica em Bom Jesus, os negros por estarem proibidos de participar da celebração religiosa invadiam ano após ano os barracões de Pirapora. Mesmo com a estrada precária e as condições difíceis para o acesso, a comunidade negra vinha cada vez mais dançar e festejar na cidade religiosa. Nas margens do rio Tietê durante o dia pescavam e se alimentavam, buscando energia para a noite festejar nos barracões toda africanidade de seus ritmos.

Em contrapartida, os religiosos sentiam-se cada vez mais incomodados; enquanto a celebração religiosa durava apenas 1 dia a festa dos barracões duravam 7, ultrapassando em muito o cortejo religioso. Muita retalição foi feita contra a festa dos negros (Geraldo Filme ilustrou bem estes fatos na música Batuque de Pirapora), porém como muitos estudiosos apontam não foi esta retaliação o maior fator que fez com que o evento sucumbisse, apontando como maior responsável o processo de modernidade que passava a sociedade no final do século XIX, a qual fez com que os celebrantes dos barracões fossem cada vez menos as festas de Pirapora para tentar melhorias de suas qualidades de vida em suas próprias cidades. Com a diminuição das festas nos barracões as autoridades religiosas mandaram demolir os dois barracões onde as festas aconteciam sucumbindo de vez os festejos. Atualmente em Pirapora algumas pessoas lutam para manter a festa viva, como é o caso de Dona Maria Esther, 84 anos, que luta para manter vivas as tradições do samba rural paulista através de sua energia de vida.
Costumeiramente ela destaca suas facetas nos anos 30 quando dava espiadas nos barracões local que os negros dançavam samba e onde até então não era permitida a entrada de brancos. Esther rompeu este preconceito sendo aceita depois, pois para dar estas espiadas nos barracões levava muitas varadas de marmelo de seus pais e "olhar" de repulsa de muitos brancos que fizeram os sambistas ficarem com dó, aceitando-a nas festanças. Conforme Dona Esther conta isto com seu bom humor frequente isto gerou um casamento e vários namoros. Salve Pirapora berço e patria mãe do samba paulista. por Fábio
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